Indicadores
sociais no Brasil: a distância que nos une.
José Álvaro de Lima
Cardoso.
Na
comparação com o País Santa Catarina tem bons indicadores sociais. Exibe o terceiro
maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil e o maior da Região Sul.
Dispõe também do melhor Coeficiente de Gini do Brasil, importante indicador de
desigualdades sociais e do nível de concentração de renda na sociedade. Outros indicadores como o de pobreza,
rendimento, taxa de analfabetismo, revelam que a condição sócio econômica de
Santa Catarina, ostenta dados acima da média nacional. A taxa de desocupação de
Santa Catarina (medida pela Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio- Pnad,
do IBGE), de 7,5%, é a menor do Brasil, que possui taxa de 13%. O estado tem
também um dos mais elevados índices de formalização do trabalho do País, ainda
que a informalidade também seja um problema e esteja em expansão atualmente,
com a crise. Em 2014 o estado atravessava, inclusive, uma situação de pleno
emprego, ou algo muito próximo disso. Quem desejasse trabalhar, pelos salários vigentes
no mercado, encontrava colocação. Em alguns setores, especialmente nos
trabalhos mais sofridos, faltavam trabalhadores,
razão pela qual foram trazidos trabalhadores haitianos, e de outras regiões do
Brasil, como Norte e Nordeste. Passou-se a utilizar também força de trabalho
indígena para ocupação de certos postos de trabalho. A indústria de
processamento de carnes, os serviços em geral, e a construção civil são
exemplos de utilização da força de trabalho dos segmentos mencionados. No
entanto, tem que se levar em conta que os indicadores de Santa Catarina são razoáveis
porque a comparação é feita com o Brasil, país que tem um dos piores perfis de
distribuição de renda do mundo. Pelo Coeficiente de Gini, o Brasil é o 10º país
mais desigual do globo e o quarto da América Latina, à frente apenas de Haiti,
Colômbia e Paraguai.
Um
relatório de outubro da ONG britânica Oxfam a respeito da desigualdade social
no Brasil (“A Distância que Nos Une”, título aproveitado neste artigo), revela
que os seis brasileiros mais ricos possuem a mesma riqueza que os 100 milhões
de brasileiros mais pobres. Estudo divulgado em setembro pela equipe do
economista Thomas Piketty, que classifica a manutenção da desigualdade no
Brasil como “chocante”, constatou que a renda média dos 90% mais pobres no
Brasil é semelhante à dos 20% mais pobres na França, o que revela, como lembra
o estudo, que o Brasil carece de uma vasta classe média. Segundo o referido
trabalho, por outro lado, o 1% mais rico no Brasil tem renda superior ao 1% mais
rico na França, o que revela a desigualdade de renda no Brasil. A desigualdade
brasileira também fica evidente nas comparações relativas à gênero. Mesmo com
maior escolaridade, segundo a ONU, a renda per capita da mulher é 66,2%
inferior à dos homens. Até 2014, quando os indicadores de renda vinham
melhorando gradativamente, foram determinantes políticas, como: a) geração e
formalização de empregos; b) valorização dos salários, com aumentos reais no
salário mínimo; c) repasses da Previdência Social; d) aumento das
transferências governamentais para os estratos de menores rendas (Programa
Bolsa Família e Benefício de Prestação Continuada); e) combate à pobreza e à
fome; f) formas de acesso da população ao consumo e à renda e ampliação do
mercado interno de uma forma geral. Quando a crise mundial apertou, o golpe
veio, também para interromper esse processo de melhoria da distribuição de renda.
E não só por razões econômicas, mas também por motivações políticas e culturais.
A melhoria de vida dos pobres despertou, inclusive, um ódio desenfreado àqueles
que melhoravam de vida, talvez originário do ódio destinado aos escravos, durante
a secular prática da escravidão no Brasil. O enfrentamento da grave crise atual
requereria políticas que o Brasil vinha colocando em prática até 2014. Mas a
lista de maldades da política econômica golpista aponta na direção oposta:
liquidação do mercado de consumo de massas; destruição dos direitos sociais e
trabalhistas; destruição da Seguridade Social; desmonte da Petrobrás e a entrega
do pré-sal; destruição do sistema de defesa do território nacional; liquidação de
qualquer vestígio de Estado de bem-estar social; inserção do Brasil nos
mercados internacionais de forma completamente subordinada, como mero
fornecedor de matérias-primas agrícolas e minerais; entrega do sistema público
de energia para as multinacionais; redução dos salários e do custo geral da
força de trabalho.
Com
o golpe e a aplicação de um ultra liberalismo completamente fora de moda, que
nem o Fundo Monetário Internacional (FMI) recomenda mais, é como se o Brasil tivesse
sido invadido por uma potência inimiga. De certa forma, foi isso mesmo que aconteceu,
como revelam os índices de popularidade do governo ilegítimo. Com a catálogo de
maldades que está sendo encaminhado de forma muito veloz, para evitar reação
social, a primeira onda neoliberal, na década de 1990, que devastou estatais e liquidou
a indústria, está se tornando uma simples brincadeira de criança.
*Economista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário