Brasil
do pós-golpe é um paraíso...para as multinacionais.
*José
Álvaro de Lima Cardoso
No dia 07 último,
em Córdoba, na Argentina, o presidente da Fiat, Cristiano Rattazzi, defendeu
que a regulamentação trabalhista do mundo todo deveria ser “flexibilizada” de
forma semelhante ao que foi feito no Brasil, pelo governo golpista. Se
referindo ao pais, afirmou que “hoje, temos um país sério, depois de doze anos,
onde foi uma palhaçada total”. Segundo Rattazzi, no Brasil de hoje, no que
refere à legislação trabalhista "melhor, é impossível “. Os executivos das
gigantes multinacionais do petróleo também não têm poupado elogios à direção da
Petrobrás, justamente em relação àquilo que seria essencial o país ter
conservado, no que se refere à lei de Partilha: exigências de conteúdo local,
exclusividade na exploração do óleo e compromisso com o desenvolvimento.
O mesmo fenômeno
ocorre em outros setores. O governo arrecadou R$ 12,1 bilhões com o leilão de
quatro usinas hidrelétricas operadas pela (Cemig), No dia 27 de setembro,
chineses, franceses e italianos arremataram em leilão 4 importantes usinas
hidrelétricas operadas pela Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), a um
valor que equivale a míseros 2% do que o Brasil gasta anualmente com os
serviços da dívida pública. Atingido o objetivo de arrematar o seu lote, os
executivos italianos comemoraram como se tivessem conquistado a Copa do Mundo
de Futebol, de forma invicta.
Basicamente não há
crescimento do afluxo de investimentos estrangeiros no Brasil. Os capitais que
que têm vindo, vêm para comprar ativos em processo de liquidação. Vender ativos
em meio a maior recessão da história não decorre de burrice. É política de
traição nacional, mesmo. Os “desinvestimentos forçados” pela Lava Jato na
Petrobras têm aumentado muito a oferta de ativos brasileiros baratos. Além de
comprar patrimônio estratégico por pechincha, uma parte destes supostos
investimentos são empréstimos das matrizes para as suas próprias subsidiárias
no Brasil, visando fazer negócio com câmbio, ou seja, aproveitam o diferencial
de juros para fazer dinheiro, já que o Brasil pratica historicamente as mais
altas taxas do planeta. 2
As alegações dos golpistas para o torra-torra
de ativos, em petróleo e gás, ou no setor elétrico, se referem à supostas
deficiências operacionais, fragilidades de governança ou elevados gastos com
folha de pessoal. São falsos argumentos. Estão entregando patrimônio
estratégico a preço de banana, para tentar cobrir o maior déficit público da
história, e servir às multinacionais. Recentemente foram leiloadas duas usinas
de São Paulo, em Ilha Solteira e Jupiá, arrematadas pela empresa China Three
Gorges. Segundo os dirigentes sindicais, feito o negócio, a empresa chinesa
imediatamente demitiu todos os trabalhadores e, ato contínuo, fez proposta de
readmissão nas mesmas funções, mas com remuneração muito menor. Este será o
comportamento padrão dos “investidores” estrangeiros no Brasil, nesta conjuntura
pós-golpe.
As multinacionais que atuam no Brasil têm muitos
motivos para rir à toa. A contrarreforma trabalhista que entra em vigor em
novembro, significará uma transferência de riqueza da classe trabalhadora para
as empresas, especialmente as grandes, como nunca foi visto na história do
Brasil. A aplicação das regras da referida lei, na prática da negociação
coletiva, conduzirá à uma elevação da pobreza, em um nível que possivelmente
jamais tenhamos assistido. Comparados com o roubo de renda e salários da nova
lei trabalhista, os valores estimados como provenientes da corrupção no Brasil,
que tanto ocupou a farsa da Operação Lava Jato, representarão meros “trocados”.
Isso sem considerar todo o conjunto de atrocidades que está sendo cometido
contra o país, em todas as áreas.
A espinha dorsal do programa econômico golpista, é
absolutamente implacável com os trabalhadores, especialmente os mais pobres, e
completamente dócil aos interesses das multinacionais. É que o golpe não está
brincando em serviço e precisa atender, rapidamente, três eixos básicos: a)
aumentar a taxa de exploração dos trabalhadores; b) pavimentar os caminhos para
as principais fontes de matérias primas do mundo; c) abrir frentes de “negócios
da China”, como as privatizações, o que estão encaminhando nos vários setores.
*Economista.
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