A
Ditadura Militar instaurada no Brasil com o Golpe de 1964 foi a maior tragédia
política da república brasileira ao interromper um notável ciclo de lutas e
mobilizações dos trabalhadores e da sociedade em geral comprometida com a
construção de uma nação mais justa e mais democrática. O desfecho da crise
política e econômica, como já dissemos, foi conservador e golpista e, desta
forma, com o advento da Ditadura as forças progressistas saíram derrotas e o
país perdeu a oportunidade de conciliar desenvolvimento econômico, democracia e
participação popular na perspectiva de construção de uma sociedade de direitos
interrompendo nossa trajetória histórica caracterizada por uma sociedade de privilégios. A
perdas para a sociedade brasileira foram imensuráveis e suas conseqüências
ainda se fazem sentir nos dias de hoje, pois:
“O autoritarismo plutocrático fechou o espaço público, abastardou a
educação e fincou o predomínio esmagador da cultura de massa. Sua obra
destrutiva não se resumiu, pois, à deformação da sociedade brasileira pela
extrema desigualdade. Legou-nos, também, uma herança de miséria moral, de
pobreza espiritual e de despolitização da vida social. Eis a base de uma
verdadeira tragédia histórica que se enraizou nas profundezas da alma de várias
gerações”. (Mello e Novais, 1998, p. 636/37).
Como
era de se esperar, as conseqüências do Golpe Militar para o movimento sindical
combativo e para os trabalhadores em geral foram terríveis. O sindicalismo foi
duramente reprimido com prisões e perseguições às lideranças sindicais, como
foi o caso dos dirigentes do CGT. No primeiro ano após o golpe, ocorreram 452
intervenções em sindicatos e em várias federações e confederações de
trabalhadores. A repressão atingiu, tanto os sindicatos rurais, como os urbanos. As greves foram proibidas através da
promulgação da Lei nº 4330 de 1º de junho de 1964. A greve para ser considerada
legal deveria ser aprovada na assembléia da categoria convocada pelo sindicato
oficial por meio d edital publicado na imprensa com dez dias de antecedência.
As decisões tinham que ser submetidas a votação secreta, cabendo a apuração dos
votos a uma mesa presidida por membro do Ministério Público do Trabalho ou por
pessoa designada pelo Procurador Geral do Trabalho ou pelos procuradores regionais.
A cumplicidade e a troca de favores entre empresários e a repressão
policial teve um efeito devastador sobre
a militância que resistia nos locais de trabalho, especialmente a partir de
1968 quando se intensificou a repressão do regime. Também no campo a
colaboração entre latifundiários e repressão ocasionou perseguição e
assassinato de várias lideranças dos sindicatos rurais e das ligas camponesas.
A
classe trabalhadora sentiu logo os efeitos da política econômica imposta pelos
militares através do fim da estabilidade no emprego com a implantação do FGTS e
com adoção de uma rígida política de arrocho salarial. A Lei nº 4.725 de 13 de
julho de 1965, chamada pelos dirigentes sindicais como “Lei do Arrocho”, que
impunha uma única regra de reajuste para todos os setores da economia. Os
reajustes eram calculados a partir da recomposição do salário médio dos últimos
24 meses, extinguindo o resíduo inflacionário e incorporando uma taxa de
produtividade somente a partir de um ano de vigência da lei. Marco Antonio de
Oliveira, (2002: 184) observa que não foi necessária uma ampla reforma
trabalhista para que a Ditadura reforçasse o poder das empresas sobre os
trabalhadores:
“Bloqueada a atividade sindical, as empresas ficaram mais livres para
estabelecer as condições de contratação, uso e remuneração da força de trabalho. Amparados pela política
salarial, que reduziu o poder de compra
do salário mínimo e que passou a coibir aumentos salariais, os patrões deixaram
de enfrentar maiores obstáculos para
rebaixar os salários. Livres também da estabilidade no emprego, eles podiam
apelar mais facilmente à rotatividade de mão- de- obra para manter os salários
baixos, para ajustar seus custos às oscilações da atividade econômica e para
adequar o quadro perfil dos trabalhadores às necessidades das empresas”.
Dessa
forma, continuávamos nossa trajetória de desigualdade social, pois o modelo de
desenvolvimento desenhado pelos militares e pela elite empresarial não visava o
conjunto da nação. O espetacular crescimento econômico ocorrido no período do
chamado “Milagre Econômico” (1968-1974) não gerou distribuição de riqueza capaz
de mudar o perfil social do nosso país, pelo contrário, concentrou ainda mais a
riqueza.
O
movimento sindical resistiu dentro dos limites colocados pela conjuntura
política. Os militantes menos conhecidos e, portanto, menos expostos à
repressão policial, assumiram o trabalho de organizar a resistência dos
trabalhadores nos locais de trabalho e também de organizar as oposições
sindicais contra os interventores sindicais.
Também
estiveram à frente de muitas greves que pipocavam devido a conjuntura recessiva
e de arrocho salarial posta em prática logo após o golpe militar que gerava
freqüentes atrasos nos salários.
Em São
Paulo, como conseqüência desse processo de mobilização, em 1967, foi organizado
o Movimento Intersindical Antiarrocho (MIA). Em abril de 1968, no município de
Contagem, Minas Gerais, eclode a greve dos metalúrgicos. Os grevistas
reivindicavam 25% de aumento, e conquistaram 10% depois de uma semana de greve. No mês
seguinte foi a vez dos metalúrgicos do ABC paulista. Em maio algumas montadoras
paralisaram suas atividades como a Willys e Chrysler reivindicando 25% de
aumento.
No
mesmo ano, no mês de julho, ocorreu a greve dos metalúrgicos de Osasco,
município da grande São Paulo. Na direção do movimento estavam o Sindicato dos
Metalúrgicos de Osasco, cuja direção havia sido conquistada em 1967 pela
oposição que organizou uma chapa contra os “pelegos” interventores. A greve foi
duramente reprimida e desencadeou um processo ainda mais intenso de repressão
ao movimento sindical, comandada pelo Ministro do Trabalho, o coronel Jarbas
Passarinho.
Para
saber mais:
DELGADO,
Lucília e FERREIRA, Jorge. O Brasil republicano. O tempo da ditadura.
vol.4. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 2003
GIANOTTI,
Vito. História das lutas dos trabalhadores no Brasil. Rio de Janeiro:
Mauad Editora Ltda. 2007.
MELLO,
João Manuel C. de. & NOVAIS, Fernando. A. “Capitalismo Tardio e
Sociabilidade Moderna”. In:
SCHWARCZ, Lilia M. (org.) História
da Vida Privada. Vol 4. São Paulo: Cia das Letras. 1998.
OLIVEIRA, Marco Antonio de. Política
trabalhista e relações de trabalho no Brasil
- da era Vargas ao governo FHC. Tese de Doutorado. Instituto de Economia da
Unicamp, 2002.
TOLEDO, Caio Navarro de (org).
1964 – Visões Críticas do Golpe. Campinas: Editora da Unicamp,
2001.
REIS, Daniel Aarão; RIDENTI,
Marcelo e MOTTA, Rodrigo P. S. O golpe e a ditadura militar –
40 anos depois (1964-2004). São Paulo: Edusc, 2004.
Fonte: https://cut.org.br
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