Revolução industrial e a classe trabalhadora
A
Revolução Industrial pode ser definida como um conjunto de transformações que
afetaram drasticamente a forma de produzir as mercadorias. Essas transformações
tecnológicas, econômicas e sociais
aconteceram primordialmente na Inglaterra entre 1750 e 1830. As
principais inovações tecnológicas dessa primeira fase da revolução
industrial são a lançadeira volante; a
máquina de fiar que substituiu a roca; a máquina de fiar movida a água; e o
tear mecânico. Porém a descoberta decisiva foi a máquina a vapor patenteada por
James Watt em 1781, que passou a ser empregada como força motriz em diversos
processos “libertou” a indústria de sua dependência dos rios. As fábricas
puderam, a partir de então, se instalarem em lugares mais estratégicos para os
seus negócios. Esse processo sofreu um notável impulso a partir do emprego da
energia a vapor nos navios e locomotivas em 1830, que encurtou as distâncias
entre as matérias primas necessárias à
produção e o escoamento das mercadorias até o mercado consumidor numa
escala até então desconhecida no mundo.
Mas
porque a Revolução Industrial aconteceu primeiro na Inglaterra e não em outro
país?
Porque
foi na Inglaterra que se criaram as condições políticas e econômicas para que a
Revolução Industrial se realizasse com maior impulso, apesar de outros países
também terem desenvolvidos suas máquinas para manufatura. A Revolução Inglesa
(1640-1660) pôs fim ao Absolutismo e instituiu o parlamento, que representava
os interesses da burguesia e de parte da nobreza aburguesada, como centro decisório do Estado Inglês. A
Revolução foi fruto da aliança entre a burguesia e parte da nobreza inglesa
cujos interesses econômicos estavam intimamente ligados e criaram as condições
para expansão colonial e mercantil Britânica que forneceu capitais e matéria
prima para a incipiente industria manufatureira. A Revolução Inglesa estimulou
o processo de “cercamentos”, isto é, o cercamento de terras comunais ocupadas
secularmente por camponeses, que passam a ser exploradas de forma capitalista
pela nobreza aburguesada, por conseguinte, a renda da terra passa a se
incorporar na dinâmica do capitalismo comercial e manufatureiro na Inglaterra,
antes que os demais países da Europa. Por outro, lado os camponeses expulsos de
suas terras vagavam pelos campos como jornaleiros, ou seja, trabalham por
jornadas em diferentes lugares perdendo os vínculos de identidade que possuíam
com suas antigas comunidades, ou foram para as cidades oferecendo-se como operários nas manufaturas e fábricas
nascentes.
As
terríveis condições de trabalho a que eram submetidos os trabalhadores e
trabalhadoras, muitos ainda na idade infantil, na primeira fase da Revolução
Industrial, foram objeto de investigação de Marx no capital, conforme aparece
no trecho abaixo extraído de um relatório de 1863 dirigido aos comissários de
Emprego Infantil de 1841, que denuncia o trabalho de crianças numa fábrica de
cerâmica de Staffordshire.
Wilhem Wood, nove anos de idade, tinha sete anos e 10 meses
quando começou a trabalhar. Desde o começo ele levava a peça modelada à câmara
de secagem e trazia de volta depois a fôrma vazia. Chegam todos os dias da
semana às 6 horas da manhã e para por volta das 9 horas da noite. “Eu trabalho
todos os dias da semana até 9 horas da noite. Assim, por exemplo, durante as
últimas sete a oito semanas”. Portanto, 15 horas de trabalho para uma criança
de sete anos! (Cf. Marx, Karl. O
Capital, vol. I Livro primeiro Tomo 1 p.
197. São Paulo. Editora Abril, 1984).
As condições de trabalho expostas aos homens e
mulheres foram gerando protestos e revoltas dentro e fora das fábricas. A luta
pela redução da jornada de trabalho é uma das primeiras reivindicações
operárias juntamente com o direito associação. Protestos, marchas, comícios e
petições compunham o leque de ações operárias que inevitavelmente eram
reprimidas pela polícia, como o comício realizado em Londres em 1819, que
reuniu 80 mil manifestantes. O direito de livre associação foi reconhecido pelo Parlamento Inglês em 1825. A
resposta dos trabalhadores não tardou e, no mesmo ano, foi fundada em
Manchester a União dos Fiadores de Algodão, constituindo-se no primeiro
sindicato formal de trabalhadores no sentido que conhecemos hoje. Embora nas
minas o progresso tenha sido mais lento, em 1847 foi aprovada a “Lei das Dez
Horas” e apesar dos protestos dos empresários as mudanças foram aceitas. Cinco
anos antes, no norte da Inglaterra, havia ocorrido a primeira greve geral da
era industrial reivindicando a redução da jornada de trabalho.
Assim
como as fábricas e a exploração do trabalho vão se estendendo para os demais
países da Europa e os Estados Unidos, as lutas dos trabalhadores e
trabalhadoras também se expandem para além das fronteiras nacionais. Na vizinha
França, os sindicatos só serão reconhecidos como entidades legais em 1864, mas
nesse país as manifestações operárias tornaram-se famosas pelo seu grau de
radicalismo. A França foi o berço do chamado sindicalismo revolucionário que
erguia barricadas e enfrentava governos, como aconteceu nas jornadas de 1848 e
1871 em Paris, esta última, denominada “Comuna de Paris”, é considerada a
primeira experiência revolucionária da classe operária em que os trabalhadores
em armas expulsam o exército e proclamam um novo governo com novas leis e com a
divisa “Terras aos Camponeses e Trabalho para Todos”, que durou cem dias,
período em que “os operários tomaram os céus”, na expressão famosa de Karl
Marx. A vingança da burguesia custou 30 mil vidas de trabalhadores.
Para
finalizar essas breves notas sobre as primeiras lutas dos trabalhadores
destacaremos a luta pela jornada de 8 horas que se tornou conhecida em todo
mundo e que ocorreu nos Estados Unidos no primeiro de maio de 1886, cujo
epicentro foi a cidade de Chicago, conforme aparece no relato a seguir:
Os
trabalhadores abandonam as fábricas e manifestações são realizadas nos
principais centros dos Estados Unidos. O ponto principal da luta será em
Chicago. É sábado a cidade amanheceu parada. As fábricas e o comércio não
funcionam. Uma multidão toma as ruas, em passeata. Famílias inteiras rumam em direção
à praça Haymarket, numa manifestação pacífica, que termina com um grande
comício, sem qualquer incidente.
Na
segunda-feira, dia três, a greve continua nas empresas que se recusam a aceitar
a jornada de 8 horas diárias. Na fábrica McCormick Harvester, a polícia dispara
contra um grupo de operários. Resultado: seis mortos, cinco feridos e centenas
de presos.
No
início da noite de terça-feira, dia quatro, os trabalhadores surgem de todos os cantos da cidade, para mais uma
manifestação. Quando o comício termina e o povo começa a se dispersar, os
policiais entram novamente em ação, com
a mesma violência do dia anterior. No meio do tumulto uma bomba explode matando
10 policiais. Em represália 80 trabalhadores são mortos.
Há muitos feridos e oito
sindicalistas acabam presos e julgados como autores do lançamento explosivo.
O
julgamento dura vários dias. O tribunal condena cinco dos oito homens à morte e
três a trabalhos forçados por muitos anos. Antes da execução, um deles, Luis
Lingg, escreve uma carta, na qual procura eximir seus companheiros de qualquer
participação na explosão e se mata na
cela.
Em
11 de novembro de 1887, quatro homens são
enforcados. Seis anos depois, o processo é revisto e todos são
considerados inocentes pela justiça.
Os
três sobreviventes são soltos. (Revista da CUT-SP 1º de Maio 2004, p.2).
Como
podemos notar, nesse pequeno apanhado, a história da classe trabalhadora é
carregada de lutas e de tradições que se difundiram por todo o mundo. No Brasil
não foi diferente e a nossa classe trabalhadora foi acumulando um rico
patrimônio de lutas entre vitórias e derrotas.
Para
saber mais:
MARX,
Karl. O Capital, vol. I Livro
primeiro Tomo 1. São Paulo. Editora Abril, 1984.
THOMPSON.
E.P. A formação da classe operária inglesa. 3 volumes. Rio de Janeiro,
Paz e Terra, 1987.
HOBSBAW,
Eric. Mundos do Trabalho. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1984.
Fonte: https://cut.org.br
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